sexta-feira, 30 de maio de 2014

Procurando estrelas no terraço

Hoje senti saudades de mim. Sim, de mim! Senti saudades do passado, de pessoas do passado, da pessoa que fui, que se transformou e se transforma diariamente.
Senti saudades dos meus primeiros anos no Rio de Janeiro, morando em um pensionato. Eu subia até o terraço do prédio só para ver estrelas. Devo ter sido uma pessoa bem incomum, porque quando foi necessário convencer uma amiga a ir ao terraço, pois havia uma festa surpresa lá, usei o argumento das estrelas cadentes. Todos devem olhar para o céu no aniversário e procurar estrelas cadentes para fazer um desejo! Ela se convenceu, e não suspeitou da festa. E disseram que vindo de mim, essa era uma frase e um comportamento normal!
Conheci pessoas maravilhosas, briguei com essas pessoas, fiz as pazes. Tive momentos em que perdi a paz, e a procurei na igreja, no silêncio e na brisa da praia vermelha, na corrida na praça pela manhã, no choro durante o desespero da sensação de estranheza e vazio interior! Descobri que amar requer um esforço grande do ser humano. Descobri minha paz no amor à vida.
Descobri que sinto falta do terraço. Descobri que mudei muito, mas ainda sou capaz de procurar estrelas cadentes no céu.
Ainda estou aprendendo a amar. E as estrelas, elas acalmam a alma, brilham, dando o tom da lição de amor. Porque o infinito encanta, e assim é o amor, infinito e encantador.

domingo, 11 de novembro de 2012

Ops!

Ele se despediu rápido, chamou o elevador e virou o rosto, de forma a escondê-lo.
- Hei... o que houve?
Ele não deu atenção. Mas ela insistiu. Colocou a mão nos ombros dele e pediu que ficasse mais um pouco.
- Você sabe que estou indo embora amanhã. Por favor, não se despeça assim... converse comigo.
Ele a olhou com os olhos marejados e disse que não era nada.
- Como pode não ser nada? Você está vazando água salgada!
Ele sorriu. Um sorriso triste. Entrou novamente no apartamento, sentou no sofá e a puxou para perto dele, beijando-lhe a testa.
- Isso está difícil. Só te vejo esporadicamente, nunca há certeza de nada. Essa distância... eu nunca me senti assim com ninguém... você não sabe como está difícil.
- Eu não sei?
Ela sorriu contrariada e olhando atentamente nos olhos dele.
Ele, sem jeito e tentando se desculpar, a beijou.
- Eu estou completamente apaixonado por você!
- É...eu também. Eu estou completamente apaixonada por você! Que merda!
- Tão romântica! Adoro esse romantismo. - Ele ria.
- Eu não planejei isso. Era pra ir levando... só brincadeira.
- Eu sei. Também não planejei, mas acabei fascinado.
- Ops! Foi mal. - disse ela, sorrindo.
- É... a vida gosta de pregar peças. E agora?
Ela continuou olhando para ele, tentando gravar na memória cada traço daquele rosto, tentando guardar o exato local da covinha, que aparecia quando ele sorria.
- Agora... voltamos a sentir o coração partido e a saudade arder até que o tempo conserte esse estrago que a distância causa... essa bobagem que a vida fez!
- Você tá vazando água salgada também. - Disse ele, aconchegando-a em seu peito num abraço terno.
A garganta queimava. Ela tentava engolir o choro, como fazia quando criança ao levar bronca após alguma traquinagem.
- Eu sei. Merda!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A vida é um jogo de xadrez



Histórias, contos de fadas narram o príncipe como herói. Lá está ele, lutando e salvando a princesa! Ora, poucos percebem que ela é a grande heroína. Ela o salva do marasmo, faz seu coraçao bater atropelado, dá razões para seu heroísmo! É como no jogo de xadrez. O rei é a peça fundamental, quem mata o rei, ganha o jogo! Mas, e a rainha? Ela é poderosa, é livre no tabuleiro, é a grande guerreira que precisa salvar o rei. Porque é sempre assim... são elas que salvam os famosos heróis.

E se elas falham? Então, os corações sangram! Se elas falham, a história heróica não ocorre: não há príncipe, não há dragões a serem derrotados, não há salvamentos! Se a rainha não consegue salvar o rei, ele morre, isto é, ou o amor não floresce, ou o amor acaba, restando corações partidos, planos perdidos...

Daí, ela parte para outra. Ela busca ser a rainha de (e a princesa a ser resgatada por) um novo herói, busca um novo reino, uma nova luta, novo salvamento. E começa outro jogo de xadrez na esperança de que o próximo xeque-mate seja dado por ela e seu rei.

Ces't la vie!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Passando pelo mundo


Outro dia, eu estava pensando em como algumas pessoas, muitas vezes desconhecidas, marcam nossa vida.

Quando terminei a prova de segunda fase do vestibular aqui no Rio, peguei um táxi para ir até o apartamento em que me hospedei. O taxista era um senhor, muito simpático, com jeito de vô, que me deu bronca quando eu disse que não conhecia o Rio. "Nunca diga isso para um taxista! Irão te enrolar. Você quer ir para copa pelo caminho rápido ou bonito?" Eu respondi que preferia o caminho rápido, afinal já conhecia a lagoa, o caminho bonito... mais tarde, eu saberia que na zona sul, tudo é bonito! Enfim, esse senhor me perguntou o que eu fazia no Rio, e eu respondi. "E aí, passou?" "Não sei, acabei de fazer" E então, ele disse a melhor frase, aquela que ficou cravada na memória: "Passou sim, eu sou pé quente! Ainda te encontrarei por aqui daqui uns anos, e você dirá que acertei!"

Ele foi a primeira pessoa de quem lembrei quando saiu o resultado do vestibular. Eu havia passado! Nunca mais o encontrei por aqui, mas nunca o esqueci...
Assim, como também não me esqueci da primeira paciente que me deu um presente (um pacote de bolachas!),nem do garçom da pizzaria que tentava provar por A+B que eu era a cara da Catherine Zeta-Jones (miopia é fogo!), nem do velhinho flamenguista da pracinha, que chorava de felicidade porque o Flamengo havia conquistado a Taça Guanabara e dizia: "Filha, esse time só me dá felicidade, só felicidade!"

São coisas pequenas, mas vão ficando na memória, sabe-se lá porquê. Talvez, a razão seja para nos lembrarmos, de quando em vez, que a vida é isso, feita de momentos. Nem sempre são grandes momentos, mas são suficientes para se lembrar de que se está vivo. Existe algo melhor do que viver? Sentir alegria, tristeza, dor, euforia... Sabe o que é isso? Nossa passagem pelo mundo. Você deixa sua marca e é marcado também!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Me dá a mão, vamos entrar no barco?


“Um dia, eu entrei naquele barco. Precisava te contar que fora incrível. Eu entrei naquele barco em sonho, e nele, você remava comigo. As águas se alternavam, ora plácidas, ora em tormentas, mas nós continuávamos sem desistir. Não nos cansávamos, porque tínhamos um ao outro. Era fácil, simples como as coisas realmente devem ser. Seu rosto era leve, a barba por fazer brilhava aos raios do sol. Eu adoro essa barba, sabe?! Mas, foi um sonho...
Eu não entendo seus olhares, sua presença, sua ausência. Não entendo sua marra. Não entendo, mas gosto, porque faz parte de você. Gosto do seu jeito controlador, você sempre está no controle de tudo. Admiro isso, de verdade! Mas, queria que você soubesse que, às vezes, demonstrar-se vulnerável é normal. Pedir colo, deixar que os outros cuidem de você é normal. Eu não sei como agir, o que dizer, e mesmo quando estou ao seu lado, você não me dá pista alguma. Você me diz que é meu porto seguro, mas e o seu porto, onde está? Não quero um porto seguro, quero entrar naquele barco com você! Quero conviver diretamente com sua alegria, suas vitórias, seus medos e suas falhas, com tudo que te faz forte e com tudo que te faz humano. Quero amar seus defeitos, porque ninguém é perfeito e sem eles, você não seria você. Eu quero entrar naquele barco, de mãos dadas com você!”
- Quando você vai parar de escrever essas mini cartas apaixonadas, Cecília?
- Nunca. Por que eu deveria parar de colocar palavras bonitas no papel?
Os olhos verdes da amiga, aparentemente rabugenta, reviraram. Olharam para o alto como se pedissem aos céus um pouco mais de paciência para si e de juízo para a amiga, que se negava a separar a tríade pensamentos-papel-caneta. Os textos eram realmente bons. O problema é a sensibilidade... Por que se expor? Por que se machucar? Amor não correspondido é uma merda, isso é de conhecimento geral da nação!
- Você pode se machucar. Acho que ele não está na sua. Entende?
- Mônica, eu sei. Mas ele sabe que estou na dele. A gente sempre sabe!
Foi um baque ouvir aquilo. Como assim? Cecília sempre sonhou demais, sempre foi otimista demais, tranqüila demais... mas agora surtou! Na moral, ela sempre foi contra esse estacionamento na vida, isto é, “gostar de quem não gosta de mim” como diz a música. Ela sempre condenou as pessoas que fazem de tudo para ter um feedback romântico, que param a vida por isso.
- Cecília, que você quer dizer com isso?
Ela estava com uma expressão diferente. Carregava algo no olhar. Mônica não conseguia decifrar o que era. Mas a resposta à pergunta feita trouxe algum esclarecimento.
- Nada demais. Só acho que ele sabe. Não vou choramingar pelos cantos, não vou fazer papel de idiota. Eu não sou assim. Mas, quando quero algo, consigo. Sei que tudo acaba dando certo no fim.
- Tô boiando! Dá pra ser mais clara? Que cara é essa? Você está estranha!
- Cara de quem tomou uma decisão. Ele não está a fim de mim, o que é problemático, porque ele se enquadra perfeitamente na categoria “ ele é total nível eu pegaria”, aliás, melhor, se encaixa na categoria “ele é total nível: eu quero te pegar, cacete!”. Então, eu decidi que o farei se apaixonar por mim!
A surpresa e incredulidade passaram pelo rosto familiarmente amigável. A voz falhou por alguns segundos, mas ressurgiu transparecendo todo o espanto causado pela “decisão” da amiga surtada:
- Você sempre consegue superar as minhas maiores expectativas! Como pretende fazer isso?
- O tempo é meu aliado. Será aos poucos, sem insistência, sem correr atrás, acrescentando um pouco de mistério a cada dia. Alguns dias serão melhores do que outros: em alguns dias, esperarei qualquer manifestação de afeto, mas não receberei nenhuma; em outros dias, receberei um sim, sem ter feito qualquer pergunta. Simples assim. Eu acredito que vou conseguir, e isso é o mais importante. Posso viver de um jeito torto, mas acredito que tudo que faço, dará certo!

*Texto inspirado no poema "Remar" de Caio Fernando Abreu. Eis o poema:
"Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar."

segunda-feira, 24 de maio de 2010

E agora? Vai dizer o quê?


Algumas palavras simplesmente não existem. Há situaçoes, sentimentos que não podem ser expressos por nenhuma palavra. Eu simplesmente odeio essa ausência, esse oco na língua. É frustrante, angustiante... sim, porque você sente, você sabe que precisa dizer algo, você sabe o que é , mas nada é suficientemente bom, nada consegue expressar tudo que está dentro de você.
Situações em que isso ocorre são normais, comuns. Você pode encontrar com um amigo, conversar com ele descontraídamente, porém, o telefone dele toca e, do outro lado da linha, contam uma notícia muito triste: alguém querido faleceu! E aí? Vai, se vira nos 30! O que dizer? Como confortar? "Que chato!", "Meus sentimentos!", isso é muito pouco. Nunca se sabe o que dizer em momentos assim. É exatamente em momentos como esse que acredito na pobreza da língua. Como eu gostaria de um manual: "o que dizer nas mais diversas situações"! Seria muito útil, principalmente se esse manual fosse como um dicionário, ao lado da palavra certa, haveria a descrição do sentimento da pessoa.
Talvez, eu seja organizada demais... sim, porque preciso nomear tudo. Talvez, por isso, eu sinta tanta falta de palavras que exprimam os sentimentos...os meus e os dos outros. É angustiante não conseguir dizer o que se passa, o que sente...aliás, muitas vezes, pior do que nomear tudo é definir quantos sentimentos estão em voga. Sentir demais, ter sentimentos sobrepostos é enlouquecedor. Na verdade, é melhor dizer: viver é enlouquecedor! Porque a todo momento estamos nos deparando com algo que nos faz sentir alguma coisa. Menos mal quando a sensação é conhecida, porém, haja psicanálise para aquelas sobrepostas ou indefinidas...
Sério mesmo! Pensa na situação, você está a fim de alguém. Você se empolga, pensa direto nessa pessoa, a procura, então vocês conversam como dois amigos (o que te mata aos poucos), e você se sente um completo idiota perto dela... Na moral, vai dizer que tá apaixonado? Claro que não! Vai dizer que está a fim? Vai dizer o quê? Você consegue definir o que sente? Não, nem isso você sabe o que é, então nomear o que acontece é praticamente impossível! Não tem nome, pois nada consegue expressar a sensação, não existem palavras que exprimam o sentimento ou todos os sentimentos sobrepostos.
Ainda não consigo decicir o que é pior: o oco na língua ou a indefinição dos sentimentos. Sinceramente, talvez eu prefira sentimentos curtos, totalmente nomeáveis, definidos, simples. Sinceramente, não gosto de situações em que o oco da linguagem impera. Na verdade, bem que poderia ser mais fácil viver, né? Mas, será que seria tão emocionante?

sábado, 24 de outubro de 2009

Dom Quixote


Irreverente, educado, virado em grande cavaleiro medieval… era um Dom Quixote por excelência. Tantas lutas travadas, tanta abnegação, benevolência. Era ele! Sempre com a espada em riste para defender, para lutar por uma grande causa. Esquecia-se, porque o mundo e todas as pessoas nele eram mais importantes. Então, como um raio ou um trabalho bem feito de macumba, se pôs aos pés dela. Ela que aparecia em suas vistas com um sol. Ela que aquecia seu coração.
Foram cinco anos carregando o coração maltratado. Sim, é possível contar com apenas uma mão cheia de dedos o tempo dessa história. Nesse tempo, ele sofria. Tão difícil perceber que ela não era Dulcinéia. Ele procura acreditar. Quer se enganar? Difícil dizer... ainda briga, pisa em brasa, rasteja e se dilacera para vê-la sorrir. Ainda se esquece. Porque o mundo e todas as pessoas, especialmente ela, são mais importantes do que ele mesmo.
Quando a loucura permitirá que seus olhos se abram, para que possa enxergar que ela não é a Dulcinéia? Quando acordará desse estado de torpor, para subir em seu cavalo e buscar a real e doce Dulcinéia? Quando se lembrará de si? Quando?